domingo, 4 de abril de 2010

Pássaro Solitário

As condições de um pássaro solitário são cinco:

. Primeiro, que ele voe ao ponto mais alto;
. Segundo, que ele não anseie por companhia, nem mesmo de sua própria espécie;
. Terceiro, que dirija seu bico para os céus;
. Quarto, que não tenha uma cor definida e
. Quinto, que tenha um canto muito suave.

San Juan de La Cruz, Dichos de Luz y Amor.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Your Present Hexagram


46

The forces of growth in springtime demonstrate advancement, as new life pushes upward through the earth's crust, and the sap is rising. The emphasis is on upward motion, from obscurity to influence, with growth fostered by adaptability and the absence of opposition. Constant, flexible growth is the key attribute of a plant pushing upwards. This reading suggests a period of new promotion and prosperity in your life.

A wise person, in harmony with fate, is sensitive but determined. Make a sincere effort to apply resolute effort. Break through inertia, and good fortune will follow. By remaining flexible and tolerant, you will be able to retain the kind of conscious innocence that fuels growth and advancement. Will power and self-control are necessary to manage this growth skillfully, but the natural enthusiasm of the life force is behind everything.

Do alto destes 50 anos, 40 séculos vos contemplam...

"Os anos enrugam a pele, mas renunciar ao entusiasmo faz enrugar a alma."
Albert Schweitzer


http://www.youtube.com/watch?v=yUqxiSE-wpY&feature=player_embedded

Não importa o que fizeram de mim. O que importa é o que eu faço com o que fizeram de mim - Jean-Paul Sartre

"Por um pouco não caí na armadilha do espelho. Evito-o, mas é para tropeçar na armadilha do vidro: desocupado, de mãos a abanar, aproximo-me da janela. As obras, a paliçada, a estação velha - a estação velha, a paliçada, as obras. Bocejo com tanta força que me vem uma lágrima aos olhos. Tenho na mão direita o cachimbo e na esquerda a bolsa do tabaco. Era preciso encher o cachimbo. Mas falta-me a coragem. Deixo cair os braços, encosto a testa ao vidro. Aquela velha, além, irrita-me. Vai num choutozinho teimoso, de olhos no vago. Às vezes pára com um ar amedrontado, como se um perigo invisível tivesse roçado por ela. Ei-la por baixo da minha janela; o vento cola-lhe as saias aos joelhos. Pára, compõe o lenço. Tremem-lhe as mãos. Lá vai outra vez: agora vejo-a de costas. Velho bicho-de-conta. Suponho que vai virar à direita, para o Boulevard Noir. Tem ainda uns cem metros a percorrer, para o que precisará, pelo andar com que vai, duns bons dez minutos; dez minutos durante os quais ficarei como estou, a olhar para ela, de testa colada ao vidro. Vai parar vinte vezes, retomar a marcha, parar outra vez...
Vejo o futuro. Está ali, pousado na rua, mais pálido um tudo nada que o presente. Que necessidade tem de se realizar? Que vantagem é que isto lhe dará? A velha afasta-se, trôpega, pára, compõe uma madeixa que lhe saiu de debaixo do lenço. Recomeça a andar: ainda agora estava além, agora está aqui... torna-se tudo confuso: eu vejo ou prevejo os gestos dela? Já não distingo o presente do futuro, e, todavia, há uma duração, uma realização, que se opera pouco a pouco; a velha avança na sua deserta, desloca os seus grandes sapatos de homem. É isso o tempo inteiramente nu, que acede lentamente à existência, se faz esperar, e que, quando chega, nos enfastia, porque conhecemos então que já estava ali havia muito. A velha aproxima-se da esquina da rua; é apenas, agora, um montinho de pano preto. Pois bem, sim, concedo, há nisto algo de novo: ela não estava ali há bocadinho. Mas é um novo desbotado, sem viço, que nunca poderá surpreender. A velha vai dobrar a esquina da rua, leva imenso tempo a dobrá-la - uma eternidade."


Jean-Paul Sartre
A Náusea
Publicações Europa-América, 1976
Tradução de António Coimbra Martins