“Buscai a razão e a fé, pois, será somente
desta forma que compreendereis a importância
de saber chorar sorrindo e a de sorrir chorando.”
Há momentos em nossa vida em que tudo parece estar se despedaçando, que estamos caindo num poço profundo e escuro e que ninguém pode nos ajudar.
Meu amigo estacionou o carro e foi pagar uma conta. Me sugeriu que ficasse no carro, porque não ia demorar. Estava muito quente, mas como na calçada não havia sombra, achei melhor, mesmo. De relance vi uma pessoa “estacionada” na calçada ao lado do carro. Parecia um pedinte. Olhei para o meu amigo e cochichei que talvez fosse melhor ir junto. Ele olhou pro lado e disse: “Não demoro, fique com a chave do carro.”
A vida é feita de minutos e de decisões. Peguei a chave, joguei minha bolsa nos meus pés e fiquei por ali, mesmo.
Fazia dias que estava tendo intuições de coisas ruins, acompanhadas de pensamentos negros: Pra quê continuar vivendo; Qual o sentido de tudo? E, nesse momento, pensei, que seja o que Deus quiser, que diferença faz...
Pus o braço na lateral do carro, segurando a cabeça com a mão, mas na verdade, tentando esconder minha face, pra evitar contato visual.
De repente ouvi uma voz bem-humorada falando: ”As pessoas não sabem o que querem, quando está calor reclamam; quando está frio, reclamam também.”
“Está com dor de cabeça?” Então me toquei que era comigo e pensei “Ignoro?”, mas aquele tom de voz da pergunta me obrigou a olhar para o lado e responder: “Não, é o calor. Minha pressão deve estar baixa...”
“Imagine minha mãe que tem diabetes, como ela sofre...” respondeu ele. E neste momento, olhei realmente para o ser humano sentado na calçada, que comia prazeirosamente - com a mão – alguma coisa dentro de um marmitex.
E ele, entre uma “mãozada” e outra, continuou a disparar palavras na minha direção que foram me deixando desarmada, porque vinham sempre acompanhadas de um sorriso desdentado:
“O negócio é beber muita água. Não refrigerante, porque não mata a sede, mas muita, muita água. Eu gosto muito de água, bebo muita água e por isso não fico doente. Entendo muito de água, porque o meu signo é de água.”
Qual é seu signo? perguntei, curiosa.
“Peixes”, ele disse. E, em seguida, levantou-se, fechou a marmita, colocou numa sacola. E disse: “Deus ajude...” Eu, automaticamente, respondi: “Ele ajuda...”.
Nesse instante vi que pegava um carrinho de madeira (cheio de papelão dentro) - que não havia reparado estar ao seu lado - e seguiu seu rumo. Lá adiante, alguém jogou uma latinha de refrigerante e ele pegou no ar, brincando, como quem joga futebol.
A minha vontade foi de chorar e rir ao mesmo tempo.
Era um misto de tristeza por desconfiar dos seres humanos, por estar num estado em que desacreditava que houvesse gentileza, desinteresse, preocupação de um com o outro, enfim essas coisas que fazem a gente ter porquê viver. E de alegria, porque senti como um presente divino. (Para quem conhece astrologia, Peixes é o signo da conexão com o Cosmo, com Deus).
Por quê nos deixamos cair nesse estado? Por quê algumas pessoas, apesar de tudo, não permitem que a vida as endureça, as derrube do projeto original que é a felicidade interior?
A cena da boca sem dentes, rindo vai ficar eternamente gravada na minha memória... Gostaria que mais alguém tivesse visto...
A resposta para a felicidade estaria naquele carrinho? Talvez deva adquirir um...
Ou quem sabe, deva extrair meus dentes (que minha dentista não me ouça...).
A felicidade está em viver o momento, seja ele qual for, da forma mais feliz possível.
ResponderExcluir